A desorganização do adolescente é normal?
É comum ouvir relatos de pais de adolescentes reclamando da maneira desorganizada que os filhos levam a vida, seja em relação ao seu quarto, aos materiais escolares e as coisas espalhadas pela casa. Realmente não é agradável conviver com a bagunça e muitos pais sofrem com essa realidade cotidiana.
Por ¹Daiane Daumichen Antiório & ²Fernanda Belisário
É desesperador abrir a porta do quarto e encontrar um verdadeiro cenário de guerra ou como se um furacão terrível tivesse passado por ali e deixado roupas espalhadas pelo chão, cadernos e livros jogados, pratos e copos embaixo da cama, e no meio de tudo isso, lá está seu filho jogado na cama desarrumada, focado na tela do celular ou jogando videogame.
Se tiver coragem e chegar até o banheiro, também encontrará um ambiente bem desorganizado, com escova de dentes na pia, pasta de dente sem tampa, frascos de shampoo vazios no box, entre outras coisas fora de seu lugar.
Ao questionar o jovem sobre a situação caótica que seu habitat se encontra, é comum ouvir frases como:
E esses relatos angustiados de pais de fato tiram a tranquilidade e a paz nos lares. A preocupação em ensinar os filhos a viverem bem, de maneira organizada e limpa, faz parte do protocolo de educação.
O desconforto é tão grande, que muitos pais recorrem a profissionais especializados em organização de ambientes, especialmente em quarto de adolescentes.
SIMMM! Existem profissionais focados nesse desafio de deixar a “casa em ordem”, ou melhor, o quarto em ordem, e nesse mês convidei a personal organizer Fernanda Belisário para me ajudar a falar sobre esse assunto tão solicitado ultimamente.
Há tempos, Fernanda vem se especializando em organizar ambientes em que o adolescente “passa”, pois não é apenas o seu quarto, mas o escritório da casa e o banheiro também. A cada dia a demanda vem crescendo e ela percebe que tem muito a ver com o estado emocional do jovem.
São muitas questões levantadas em torno desse comportamento de desorganização dos jovens que, segundo pesquisa, pode estar relacionado a aspectos emocionais. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de New South Wales, na Austrália, demonstrou que um ambiente desorganizado causa estresse.
É fato que um ambiente com coisas fora do lugar, sem um critério de ordem, deixam as pessoas confusas e irritadas. Nossa casa é um local onde buscamos paz e nos refazemos após um dia de estudo, de trabalho… É onde vamos descansar, encontrar nossos entes queridos e nossos pertences, por isso, há necessidade de estar em ordem. Quando encontramos o ambiente desorganizado, gera a angústia de que alguma coisa está inacabada, que há sempre algo esperando para ser feito.
Sabemos que o jovem sempre gostou de ter o seu espaço, otimizar paredes, portas, colar pôsteres, pintar com cores diferentes, porém, deixar sapatos em seus lugares e roupas organizadas, nunca foi algo tão fácil para os adolescentes.
A personal organizer percebe que ao conversar com seus jovens clientes, eles dizem que o quarto é seu território e também seu porto seguro, onde se refugiam e se sentem protegidos, portanto esta é a primeira dificuldade para organizar. Para tentar entrar nesse universo da “bagunça organizada”, o primeiro passo é o diálogo. Segundo Fernanda: “o sentimento de posse é abalado se a conversa inicial não for agradável”.
É importante conversar com os jovens e informar que é possível manter as coisas organizadas, sem perder a sua essência e seu estilo de vida. Organizar as coisas no ambiente externo irá ajudar também na organização interna do indivíduo.
Fernanda também é professora de português do ensino médio e explica que geralmente o espaço que o adolescente escolhe para estudar é uma confusão, uns estudam na cama, outros no chão assistindo televisão, o que pode não dar muito certo. Para ela não há muita diferença entre meninos e meninas, no quesito bagunça
Personal organizer é um termo que está muito ligado à casa. No caso da nossa convidada, ela procura mostrar que através da sua experiência na sala de aula como professora, consegue acessar melhor o adolescente e “penetrar” no universo/quarto e consequentemente, isso terá impacto também na organização da vida escolar.
Ela também tem observado que o uso excessivo da tecnologia faz com que o adolescente trave e não organize as suas coisas e a sua agenda. Eles acabam amontoando tudo no quarto para ter a sensação de segurança e de que, quando decidirem, darão um endereço àquelas coisas. Todavia, isso não acontece, e para isso muitas vezes eles precisam de uma ajuda com isso.
Para Fernanda, alguns pais nunca ensinaram a organização aos filhos na infância e agora eles não sabem como fazer. Mas cabe ao adulto entender que aquela bagunça, que o incomoda tanto, pode fazer muito sentido para o adolescente, que ele se acha naquele espaço.
Procure fazer uma pergunta sobre algum objeto “perdido” no caos do quarto, você pode não imaginar que está ali, mas o dono da bagunça encontrará imediatamente.
O adolescente é caracterizado por mudanças de humor, momentos de rebeldia, conflitos internos, mudanças de fases importantes e tudo isso reflete no seu mundo externo. Chega a ser engraçado como seus amigos entram nessa “zona” e nem reparam na bagunça, como se ali também fizesse sentido para eles.
Fernanda relatou o caso da organização de um quarto de uma adolescente: “lá, a dificuldade foi a de negociar os sapatos. Consegui quando coloquei todos os pares no chão selecionados por modelos e cores. Mostrei o que cabia no armário, os pares que estavam muito usados e ela foi cedendo. No final deu tudo certo”.
É fundamental mostrar que a ordem pode facilitar a vida e exigir que o ambiente esteja limpo. Alguns não admitem que arrumadeiras ou diaristas “invadam” seu quarto ou tirem as coisas dos lugares, portanto, cabe a eles manter o local limpo.
Restos de comida em pratos embaixo da cama, papel de chocolate e balas, restos de salgadinhos e copos sujos atraem insetos e ratos, e podem trazer doenças. É importante que o dono do quarto faça a gestão da limpeza para que não o prejudique e tampouco a sua família.
Os adolescentes de hoje são engajados em projetos sociais, voluntariados, sustentabilidade, minimalismo e, portanto, conversar para que façam uma vistoria nos armários a fim de doar o que não serve, pode ser um bom começo também, mesmo que o desapego seja algo difícil.
Fernanda foi se especializando ao longo do tempo e hoje consegue, através de um bom papo, trabalhar em conjunto com o jovem e realizar a organização. Cestos de roupas sujas customizados por eles, podem ser uma saída para aquela mistura de roupas limpas com as sujas.
“A organização é uma ferramenta que pode ajudar para o sucesso nos estudos. É preciso ter um método de organização, ter comprometimento e entender que é importante olhar para esta questão de forma personalizada”, diz Fernanda.
Então, como podemos ver, a “bagunça” pode ser resolvida através de um bom diálogo ou com ajuda de um profissional especializado em organização.
Chame seu filho e lhe dê a responsabilidade de manter a ordem e a limpeza do espaço que ele ocupa. Uma pessoa com senso de organização terá muito mais facilidade em conviver na sociedade em diversos universos.
¹Daiane Daumichen Antiório é psicóloga e personal & professional coach • CRP 06/64100 • Consultório: rua Ana Pereira Melo, 253 – Cj. 203, Vila Campesina, Osasco – SP • Tel.: (11) 3681-9338 | (11) 99819-8781 • E-mail: daiane.psicologia@hotmail.com • www.sereviver.com.br
²Fernanda Belisário é consultora de organização especializada em organização de ambientes domésticos, quarto de adolescentes, escritórios e treinamento para empregados domésticos em domicílio.
Publicação de matérias no site UOL/vestibulares, jornal Metro e Leve e Leia, revistas Veja São Paulo, Cláudia e Cláudia Bebê. • Tel.: (11) 99614-3455 • E-mail: fbelisario@uol.com.br