Aos 70, livre, leve, solta… e linda! Por que não?

Quando se pensa numa pessoa com 70-80 anos, qual a imagem que vem a sua mente??? Acrescente a palavra avô ou avó… Quem tem 40 ou 50 anos, provavelmente ainda está apegado àquela imagem do idoso inativo, deficiente, voltado à família e especialmente aos netos, sem vida própria. Não faltam aqueles que pensam em quitutes de avós, artesanato, crochê ou tricôt. Mais, o próprio pictograma que identifica a prioridade para idosos (o homem de bengala) reforça a ideia do idoso frágil. Nada mais falso. Não precisa ser assim. A história de Sueli Rodrigues prova isso e ela não é um ponto fora da curva. É mais um exemplo entre muitos outros.
Por Silvana Bezerra • Fotos arquivo pessoal @BlogdaSu70

Moradora de Itu, a cerca de 100 km de São Paulo, Sueli é a titular do Instagram BlogdaSu70, onde “dita a moda” para mulheres de todas as faixas etárias. A explicação é simples, ela tem um estilo que vale para todas, sempre gostou de roupas boas, não necessariamente caras, mas que a façam se sentir bem.

A blogueira não esconde que sempre foi vaidosa, mas sem exageros. As unhas estão sempre feitas. No rosto: lápis, rímel, batom e um sorriso bastam, sem falar num creminho, embora reconheça que a pele mais escura é uma benção. “Tenho poucas rugas ‘para a idade’”, diz.

Talvez, sem saber, Sueli Rodrigues faz parte de um movimento em curso: a Revolução Grisalha. Mas de onde vem esse poder todo? “Das experiências vividas (o maior patrimônio), da autoestima, de familiares e dos amigos, com certeza”, revela Sueli.

Vida perfeita não existe e são os desafios que vão nos lapidando, abrindo nossos olhos e nossa mente para dons e oportunidades, as quais nem sempre damos a devida importância. Coisas que passam despercebidas.

Sueli não se destaca pela sua vaidade, marca ou preços de suas roupas, nem tem um visual exótico que chame a atenção. O corpo magro, em que “tudo cai bem”, como dizem as amigas, ajuda, mas não é tudo. Sueli tem bom gosto, mas o que conta mesmo é o senso estético apurado. Sabe combinar cores, padrões e proporções com seu biotipo. Coisas que ela só começou a explorar aos 70 ANOS. Cá entre nós, a idade só fez bem a ela. Uma postagem no Instagram tipo “Antes e Depois” mostra uma Sueli muito mais estilosa atualmente.

Era uma vez…

A história da blogueira nasce em João Pessoa, na Paraíba, de onde saiu ainda bebê, aos três meses de idade. A família mudou para o Rio, de lá foi para São Paulo, Curitiba, São Paulo de novo… e há 34 anos está radicada em Itu. Em 1981, Sueli casou-se com Edson Rodrigues, a quem ela descreve como um “pequeno rapaz 7 anos mais novo”, um grande parceiro e apoiador. Aliás ela diz que conheceu o seu marido aos 25 anos, mas só se casaram anos depois, quando se reencontraram e segundo ela: “tomei a iniciativa de ir atrás dele, sempre fui uma mulher de atitude”, afirma rindo.

Sueli com o marido, as filhas, os genros e a neta.

Sueli tem duas filhas, Thássia e Larissa (uma mora na Austrália e outra em Itu, como ela), e uma neta de três anos que é a “sua cópia”. Ficar em casa não faz seu estilo. Confessa: não é boa dona de casa, não cozinha bem nem é chegada a trabalhos manuais. Prefere o contato diário com pessoas diferentes e trabalhar enquanto puder. Não tem planos de parar. Ela é agente de segurança na Câmara Municipal de Itu. Adora caminhar, especialmente se na rota escolhida tiver lojas de roupas, que adora comprar. Vez ou outra faz pilates: “uma ginástica menos agressiva”, diz. Todas as manhãs reserva um tempo para alongamento. Vida comum.

De repente…

Até março de 2017, a vida seguia sem muita novidade até que, durante um check- up, descobriu um tumor no estômago. O diagnóstico inesperado mexeu com todos, mas Sueli nunca se deixou abater… até começar a quimioterapia: a “morte em vida”, segundo ela. Seu alto astral, o apoio da família e amigos, entretanto, foram fundamentais para enfrentar o tratamento e a cirurgia que tirou dela 80% do seu estômago: uma “bariátrica” radical. Diz que jamais reclamou. Ela, que já comia pouco, passou a ingerir menos alimentos ainda. Resultado: perdeu 12 quilos, chegando a pesar 42 quilos. Os ossos todos ficaram à mostra. “Eu não convivia bem com aquela magreza”.

Um mês depois da cirurgia, decidiu voltar ao trabalho: “é a melhor terapia, se você gosta do que faz e gosta das pessoas”. Durante o tratamento, além do peso, Sueli perdeu os cabelos. Mas não perdeu a vaidade. Continuou a se cuidar como antes, adaptando o visual ao novo corpo, embora sua autoestima, devido ao peso, não estivesse tão elevada.

Em janeiro passado, no entanto, duas amigas, Graziela Primiani e Rafaela Galvão, entraram em campo, sugerindo a Sueli a criação de um blog onde pudesse explorar sua experiência na composição de looks para o dia a dia. Inicialmente, ela não tinha uma ideia exata do que era e muito menos da repercussão que teria. O trabalho feito nas horas vagas mostrou uma outra faceta de Sueli. Dirigida por Graziela, se mostrou à vontade diante das lentes. Virou modelo, digital influencer. O sucesso foi imediato. Após quatro meses, já acumulava quase 30 mil seguidores (ou “segmores”, como ela chama).

Fátima Bernardes recebe Sueli no “Encontro”.

O perfil não atraiu apenas a atenção da comunidade local. Sim, a nova blogueira foi alvo de jornais da cidade e, com seu alto astral e carisma, conquistou mais fãs. Ganhou espaço em revistas e foi convidada para contar sua história em rede nacional, no Encontro com Fátima Bernardes. De acordo com Graziela Primiani, 90% dos seguidores são mulheres de São Paulo, de 18 a 35 anos, que muitas vezes buscam formas de incentivar as mães e as avós a adotar um estilo mais ativo ou prazeroso de vida.

A atenção dos mais novos, porém, não surpreende a nova digital influencer. Embora tenha amigos em todas as faixas etárias, há uma maior incidência entre os que têm pelos menos dez anos a menos que ela. Sueli diz que não se trata de preferência, mas de afinidade.

Hoje ela se diz muito mais forte e não trocaria os seus 70 pelos 40. A filha mais nova nasceu quando tinha 38 anos. Lembra que não era tão segura ou descolada como hoje. Tinha muitas inseguranças e medos. Hoje, está muito melhor, mais livre, não se importa com o que os outros dizem ou pensam.

Como o marido vê tudo isso? Dá o maior apoio, mas está longe de se preocupar com o próprio visual. Sueli conta que até tentou sugerir terno e gravata, mas não deu certo. Não era o perfil dele. Adora roupa informal e chinelos, até quando ela está mais produzida. Não é vaidoso.

Sueli valoriza suas conquistas. Todos têm seus problemas e quem enfrenta um câncer sabe o que é. Sueli diz que não teme a morte, mas não espera por ela. “Ela que me espere. Não tenho pressa”. No blog, ela não foca a doença que já não faz mais parte do seu dia a dia, mas diz que tudo depende de como se encara o problema. Ela decidiu cuidar de si própria como fazia antes e como faz agora, procura manter um estilo de vida saudável, aposta na amizade e na alegria.