Introdução alimentar saudável no bebê

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Foto/© Evgeny Atamanenko.

Está na hora de dar oportunidade de aprendizado e lembrar que o bebê não é só alguém que se limita a mastigar e engolir o alimento oferecido pelo adulto.

Por Dra. Denise Swei Lo¹ & Dra. Fabíola Custódio Flabiano Almeida² & Dra. Laura Fantazzini Grandisoli³

Quando começar?

É recomendado que a partir dos 6 meses, o leite materno seja complementado com outros alimentos para garantir a nutrição adequada e proporcionar novas experiências sensoriais. Acredita-se que, por volta dessa idade, o aparelho digestório já esteja maduro o suficiente para receber e digerir outros alimentos além do leite. Porém, é importante considerar também os sinais de prontidão do bebê, para que a introdução alimentar ocorra de forma tranquila e prazerosa. Desconsiderar a presença destes sinais, baseando-se apenas na idade cronológica do bebê para iniciar a introdução alimentar, pode levar a dificuldades na aceitação e na progressão das texturas.

ENTÃO COMO SABER SE O BEBÊ ESTÁ PRONTO PARA COMEÇAR A COMER ALIMENTOS SÓLIDOS?
Devemos prestar atenção aos seguintes sinais:
controle de tronco – o bebê deve já estar sentando sozinho sem precisar de apoio. O controle do tronco é o que garantirá a estabilidade postural necessária para que o bebê consiga realizar os movimentos de língua e mandíbula necessários para mastigar e preparar o alimento para a deglutição;
coordenação mão-olho-boca – o bebê pega objetos, olha para o que tem nas mãos e os leva para a boca, lambe, morde, passa o objeto de um lado para o outro da boca;
diminuição do reflexo de protrusão de língua – o bebê não empurra mais automaticamente os alimentos sólidos para fora da boca com a língua;
interesse pelos alimentos – o bebê demonstra interesse e curiosidade pelos alimentos quando observa outras pessoas comendo.

No entanto, mesmo que a criança apresente todos os sinais de prontidão para início da introdução da alimentação complementar, isso não significa que ela irá comer automaticamente todos os alimentos que lhe forem oferecidos. Comer é instintivo apenas nas primeiras semanas de vida, por conta do reflexo de sucção. Depois dos 3-4 meses, comer se torna voluntário e dependerá de estímulo e aprendizagem.

Portanto, para garantir o sucesso da introdução alimentar, é preciso dar oportunidades de aprendizado e enxergar o bebê não como alguém que se limita a mastigar e engolir o alimento oferecido pelo adulto, mas como alguém que possui papel ativo nesse processo de aprendizagem.

Quais alimentos oferecer?

A partir dos 6 meses devemos oferecer ao bebê 3 refeições diárias (ex. almoço e 2 lanches à base de frutas), constituídas de alimentos in natura (obtidos diretamente das plantas ou animais) ou minimamente processados (alimentos que passam por alguma modificação, como moagem, fermentação, pasteurização, congelamento, porém sem adição de sal, açúcar, gorduras ou aditivos químicos). As refeições principais (almoço e jantar) devem ser preparadas a partir de combinações de alimentos dos seguintes grupos (pelo menos um alimento de cada grupo):
• cereais, raízes e tubérculos: ex. arroz, milho, trigo, macarrão, batata, mandioca, mandioquinha, cará, inhame e batata-doce. São fontes de carboidratos, que fornecem energia, e de vitaminas e minerais. Os cereais, em sua versão integral, também são importantes fontes de fibras;
• carnes e ovos: ex. aves, peixes, carne bovina, miúdos, vísceras e ovos. São fontes de proteína, ferro, zinco e vitamina B12;
• verduras e legumes: ex. cenoura, tomate, abobrinha, abóbora, berinjela, vagem, chuchu, pepino, alface, escarola, espinafre, repolho, couve, almeirão, agrião, brócolis e couve-flor. São ricos em fibras, vitaminas e minerais, como a vitamina A (presente nos legumes alaranjados e folhosos verde-escuros) e o ferro (presente nos folhosos verde-escuros). Contêm também compostos bioativos que auxiliam na prevenção de doenças como o câncer, derrame e infarto;
• leguminosas: feijão, ervilha, lentilha, soja e grão-de-bico. São fontes de proteínas, ferro, zinco e fibras. Obs: o ferro de origem vegetal é menos absorvido pelo organismo que o ferro de origem animal. Para ser melhor aproveitado pelo corpo, ofereça na mesma refeição alimentos ricos em vitamina C, como laranja, acerola, caju, goiaba, manga, morango, brócolis, etc.

A refeição pode ser preparada com alimentos refogados em pequena quantidade de óleo vegetal, como soja, girassol ou azeite. Isso agrega sabor e garante a oferta de ácidos graxos (componentes das gorduras) essenciais para o desenvolvimento do sistema nervoso e da visão do bebê, além de facilitar a absorção intestinal de algumas vitaminas.

Como oferecer os alimentos?

Os alimentos devem ser inicialmente servidos em pequenas quantidades, separadamente, e devem ser amassados com o garfo (não liquidificar ou peneirar). Isso permitirá ao bebê conhecer diferentes texturas e sabores, além de contribuir para o desenvolvimento da musculatura e dos ossos da face. Se os alimentos ficarem muito secos, umedeça com caldo de feijão ou com o caldo do cozimento das hortaliças e das carnes para melhorar a aceitação. Ofereça os alimentos com colher, mas deixe a criança à vontade para comer com as mãos ou tentar segurar na colher junto com o adulto para levar o alimento à boca.

Foto/Divulgação.

É normal que a criança demonstre resistência para comer um alimento na primeira exposição. Na maioria das vezes, é apenas uma forma de expressar sua cautela e ansiedade frente ao estímulo que é novo para ela. Ao expormos a criança de forma repetida a um mesmo alimento, sob diferentes formas de preparo, ela passa a se acostumar com a presença, o aspecto, o cheiro, e se torna mais aberta para interagir com ele. IMPORTANTE: expor a criança ao alimento não significa fazê-la experimentar, mas apenas criar oportunidades de contato, interação ou exploração daquele alimento.

Ao longo de todo o processo, é importante sempre variar os tipos de alimentos oferecidos. Pratos coloridos, além de aguçarem o apetite, são mais nutritivos e proporcionam ao bebê o contato com uma variedade ampla de sabores e texturas, contribuindo para o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis.

A transição para outras texturas deve ocorrer gradualmente, conforme o bebê vai aprendendo a mastigar e engolir os alimentos de forma segura e eficiente. É comum que o bebê apresente o reflexo nauseoso no início da introdução dos sólidos. É um reflexo de proteção contra o engasgo, cuja função é exatamente devolver o alimento para que não chegue a obstruir as vias aéreas. Porém, muitos pais se assustam com o reflexo, confundindo-o com um engasgo e passam a oferecer todos os alimentos batidos, prejudicando o processo de aprendizagem da criança.

Por volta dos 7 meses, é recomendado que a criança faça quatro refeições diárias (almoço, jantar e dois lanches à base de frutas) e aos 12 meses, a rotina de alimentação já deve estar bem próxima à do resto da família, contendo 5 refeições diárias (café da manhã, almoço, jantar e dois lanches), sem necessidade de adaptações em relação à consistência dos alimentos. Nessa fase, alimentos do grupo dos cereais e tubérculos também podem ser acrescentados aos lanches.

É importante lembrar que a motivação para se aproximar dos alimentos e aprender a comê-los deve partir da criança. É preciso esperar que ela dê permissão para que a colher entre em sua boca. Pressioná-la para comer só tornará o processo mais difícil e gerará mais resistência. Comer é um processo fisiológico que envolve auto-regulação e aprendizagem e não um comportamento que precisa ser direcionado ou controlado por um adulto. Quando insistimos para que a criança coma uma quantidade que nós julgamos ser a quantidade adequada para ela, estamos ensinando-a a desconsiderar sua capacidade de se auto-regular de acordo com seus sinais de fome e saciedade, o que pode levar ao ganho de peso excessivo no futuro. Assim, quem cuida da criança deve estar atento a esses sinais e respeitá-los, oferecendo mais comida se a criança ainda demonstrar fome e parando de oferecer quando ela demonstrar estar satisfeita.

Se você tem dúvidas quanto ao processo de introdução alimentar do seu bebê ou enfrenta dificuldades, não deixe de procurar ajuda de um profissional especializado!

Referências Bibliográficas:

  • Birch L, Savage JS, Ventura A. Influences on the development of children’s eating behaviours: from infancy to adolescence. Canadian Journal of Dietetic Practice and Research. 2007; 68(1): s1-s56;
  • BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013;
  • BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014;
  • BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. Guia alimentar para crianças menores de 2 anos – versão para consulta pública. Brasília: Ministério da Saúde, 2018;
  • Morris, SE, Klein M – Pré-Feeding Skills – A Comprehensive Resource for Mealtime Development. 2nd edition, Pro-ed, 2000.

*Denise Swei Lo é médica pediatra (CRM: 75.590), chefe da Enfermaria de Pediatria do Hospital Universitário da USP e coordenadora da Residência Médica em Pediatria do HC da Faculdade de Medicina da USP. • Consultório: rua General Furtado Nascimento, 740, cj 36 • Alto de Pinheiros – SP • Tel.: (11) 3024-7490 • E-mail: deswlo27@gmail.com

²Fabíola Custódio Flabiano Almeida é fonoaudióloga (CRFa: 2-12120) especializada em Desenvolvimento Infantil, Distúrbios de Deglutição e Dificuldades Alimentares. Doutora em Ciências da Reabilitação pela Faculdade de Medicina da USP. • Consultório: av. Angélica, 688 – cj 101 • Higienópolis – SP. • Tel.: (11) 4306-2242 • E-mail: fga.fabiolaflabiano@gmail.com

³Laura Fantazzini Grandisoli é nutricionista pediátrica, Mestre pela Universidade de São Paulo e especializada em Dificuldades Alimentares na Infância. • Consultório: rua Purpurina, 131, cj 58 • Vila Madalena – SP • Tel.: (11) 99125-3492 • E-mail: laurafantazzini@gmail.com


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