Turu, turu, turu… Sandy & Junior estão de volta!
Esqueça o que Maria Chiquinha foi procurar no mato ou se Mariquinha abriu a porta. Depois de três décadas, ou elas se acertaram com seus parceiros ou foram buscar a felicidade em outro canto como fizeram Sandy e Junior, após uma turnê de 40 shows, em 2007.
Por Silvana Bezerra
O retorno anunciado agora é temporário. A dupla programou uma turnê de 12 shows (São Paulo ganhou duas apresentações extras) para celebrar a primeira apresentação televisionada da dupla, no programa Som Brasil, apresentado então por Lima Duarte, há 30 anos. O primeiro disco, “Festa do Tatu”, só foi lançado dois anos depois.
“Nossa História” – título da nova turnê – não deve trazer músicas novas. Promete relembrar o lado mais pop da dupla, inspirada no show do Maracanã que reuniu 70 mil pessoas, e a turnê Quatro Estações, com direito a balé e um show de luzes.
É o que espera Bruna Pereira, de 29 anos, casada e mãe de uma garotinha de 10 meses. Fã declarada da dupla, conta que tem todos os discos (o primeiro dado pelo pai) e traz na memória os três shows que assistiu. O último foi o da despedida, apresentado no Guarujá. “Eram verdadeiros espetáculos, super produzidos”. Para ela, a dupla tem um estilo único, que não pode ser imitado por ninguém. Um bom motivo para não perder a oportunidade de ver novamente seus ídolos juntos e compensar o esforço para conseguir um ingresso.
Bruna conta que entrou no site para compra do ingresso antes da meia-noite e já havia uma fila virtual: quarenta mil pessoas estavam na sua frente. Quando as amigas entraram, ficaram ainda mais atrás. Naquele momento a fila havia dobrado. O grupo de fãs não conseguiu ficar junto, mas está ansioso por esse reencontro com a dupla. Turu, turu, turu: é assim que bate o coração acelerado dos fãs. Bruna espera reviver a magia dos shows que viu, mas acha que os irmãos já não dançam como antes, afinal “estão mais velhinhos, né?”
Outra que enfrentou uma verdadeira saga para se juntar aos seus ídolos e comemorar os 30 anos de história da dupla é Roberta Savassa Pereira. Aos 14 anos ela assistiu ao show que a dupla apresentou em sua cidade, São Caetano do Sul. Agora, prestes a completar 30, quer repetir a experiência ao lado de onze amigas. Roberta não é exatamente fanática pela dupla. Tem apenas o vinil “Pra dançar com Você” e o CD “Quatro Estações” e assistiu a todos os episódios da série da dupla na TV: “era sagrado”, diz ela. Desta vez, porém, montou uma estratégia de guerra para comprar os ingressos através do site e no posto físico do Pacaembu. Por um dia não largou o telefone nem um segundo. Do trabalho “coordenava a operação”. Numa reunião, pediu licença para deixar o celular ligado porque tinha “uma caso de vida ou morte para resolver”. “Com Você” e “Não dá para não Pensar” são suas músicas preferidas. Para Roberta a primeira trata do início de um amor e das fantasias que isso cria. Uma situação que toda menina vive. “Eu a ouço hoje e, para mim, reflete o que sempre desejei e o que consegui no meu relacionamento. É uma música fofa”.
O que explica toda essa atração pela dupla?
Nostalgia? Saudade da inocência e ingenuidade perdidas? Ou será que é o momento atual que nos faz pensar numa época em que, sem internet e redes sociais, a vida não passava tão depressa e as relações eram mais próximas? Talvez nem os próprios fãs saibam explicar.
Xororó, Noely, Sandy e Junior encarnam a “família margarina”, embora recusem essa ideia, que só existe no imaginário popular. Sim, eles têm seus conflitos pessoais, enfrentados na intimidade, mesmo tendo passado a vida sob os holofotes.
Segundo Sandy, ela e o irmão sempre tiveram uma “porção normal”, com folga para brincar com os amigos, ir à escola, fazer as tarefas de casa. A carreira era algo que gostavam de fazer, um plus. Ela sonhava em entrar para o “Trem da Alegria” enquanto o irmão frequentava um circo de amigos da família.
Com o sucesso, a dupla também enfrentou seus percalços, além da agenda lotada. Sandy era questionada publicamente sobre sua virgindade, enquanto o irmão era apontado como gay.
Embora diga que não é homofóbico, tenha amigos gays e nunca tenha tido problemas, Junior chegou a confessar que os comentários o incomodavam. Na escola sofria bullying por tudo. “Eu tinha o cabelo arrepiado, então era o cabelo; era porque eu era famoso; porque eu era o filho do sertanejo, que não tinha o status que tem hoje. Então houve um período da minha vida que eu tive que aprender a andar fingindo que não estava ouvindo, me fingindo de surdo no colégio”.
Junior também fazia solos. Além de cantar “Smooth”, por exemplo, exibia seu talento na percussão e dançava explorando a sensualidade latina. Quem vê, pode imaginar o tipo de sentimento que poderia despertar, especialmente em quem não tem nenhum desses talentos.
Não bastasse isso, Junior ainda enfrentava a comparação, mas garante que nunca sentiu ciúmes da irmã cantora. Entendia que a beleza e o perfil dela eram um prato cheio numa sociedade conservadora. Tinha ciúme de irmão, principalmente quando ela começou a namorar. Os comentários maldosos pesavam mais. “Tive que superar esse tipo de coisa muito cedo”, depois de várias crises de pânico e horas de terapia.
Outro detalhe: Sandy e Junior pareciam uma só persona. Junior diverte-se ao contar as confusões do público. “Para alguns, éramos filhos de Chitãozinho e Xororó e outros o chamavam de Sandy Jr. para pedir autógrafo”.
Encerrar a carreira, depois de 17 anos de trabalho conjunto, quando tinham 24 e 23 anos, e estavam no auge, porém, não parece ter sido uma decisão traumática. Apesar da surpresa dos fãs e dos próprios pais, a separação foi de comum acordo. A decisão amadurecida não significou um rompimento. A dupla ainda preparou uma turnê de despedida que, na prática, marcou uma transição para a carreira solo de ambos, um recomeço.
Sandy e Junior desde cedo tiveram suas vidas acompanhadas de perto pelo público. Eles cresceram, a voz mudou e o estilo também, mas o público se manteve fiel. O dom, o profissionalismo e a qualidade do trabalho da dupla permitiram a construção, em pouco tempo, de uma carreira sólida, sem polêmicas ou escândalos, comuns entre artistas muito jovens.
Para Paulo Fonseca, publicitário de Montes Claros, líder de um fã clube de 1.300 sócios, a separação da dupla pode ser explicada numa música: “Libertar”. “Agora a dupla pode ‛ser o que sonhou’”. Para ele, assim como todo mundo, eles também amadureceram e mudaram. Hoje, ele vê Sandy como uma pessoa mais tranquila e curiosa e Junior está mais próximo do público. Hoje pode parar, conversar por 5-10 minutos. Antes isso era impossível.
Orgulhoso, o publicitário fala por experiência própria. No último carnaval se encontrou com Junior, por acaso, e teve os minutos de conversa que tanto desejava. Com Sandy, a experiência foi ainda mais emocionante. Em 2016, ao pedir um autógrafo, a cantora lembrou seu nome. Pode imaginar o que isso significa para um fã?
Agora ele se prepara para ver todos os shows. Esteve na entrevista coletiva para a imprensa, que anunciou a turnê, e tirou fotos separadas com seus ídolos. A intenção de manter as carreiras solo foi confirmada e a dupla não pretende sequer lançar o DVD dessa temporada e nem repetir a experiência. Fonseca, entretanto, não nega uma ponta de esperança. Há um ano, depois de muitas negativas, Sandy e Junior aceitaram dar uma entrevista juntos ao programa Altas Horas e repetiram que não se apresentariam juntos novamente. Em março, anunciaram a turnê comemorativa. Embora não acredite num retorno da dupla, Fonseca diz que “nada é impossível”.
A carreira da dupla foi intensa, especialmente nos últimos anos. Numa entrevista, em 2010, Sandy confessou não saber como conseguiu conciliar tudo. “Era muito jovem, estava num turbilhão de trabalhos. Tive que me virar em três: programa na Globo, novela, terminando a escola. Fomos disco de ouro em Portugal, cantei em francês, ficamos no top 10 na Espanha, em primeiro lugar na MTV Itália… Meu Deus, hoje olho para trás e não sei como dei conta de tudo isso.”
A exaustão somada ao desejo de fazer algo novo talvez explique a separação. Sandy seguiu carreira solo adotando um estilo muito diferente. Casou-se com Lucas Lima, em 2008, e teve um filho, Theo, nascido em 2014.
A garota teria encontrado o amor descrito em “Etc. e Tal”: perfeito! NÃO! Até o casamento, percorreram uma longa estrada e, nos primeiros seis meses, Sandy acreditava que Lucas fazia coisas apenas para provocá-la. Nada disso. Eles só confirmaram o que sempre foi dito: namoro é namoro, casamento é casamento. Na rotina eles perceberam diferenças que acabaram vencidas com o tempo. Ambos são teimosos e perfeccionistas, na vida e na música.
Lucas compõe com Sandy e produz seus discos. Segundo ele, a mulher (formada em letras) se apega a cacófatos e sílabas tônicas, não se permitindo muita licença poética. O acabamento das músicas são tema de muitas discussões. Tanto cuidado produz momentos memoráveis, como a gravação de “Meu Disfarce” por Sandy e Xororó, com Lucas ao violino. O clipe tem mais de 3,5 milhões de visualizações.
Hoje, Sandy se derrete ao falar sobre o marido. Diz que, com ele, pode ser ela mesma e se sente segura por saber que suas imperfeições são aceitas. Carreira e filho exigem muito dos dois, mas repete a música escrita pelo casal quando diz “Não quero desatar os nossos nós”. Como cantora solo, Sandy já acumulou vários prêmios.
Junior seguiu outros caminhos. A paixão por bateria, descoberta aos três anos de idade (que obrigou o pai a procurar um instrumento adaptado ao tamanho do menino), se mantém, embora toque guitarra e outros instrumentos. O mais novo da dupla investiu em projetos de música eletrônica. Primeiro integrou a banda Nove Mil Anjos que chegou a gravar um álbum, mas se separou.
O cantor, hoje, atua em várias frentes. Como produtor trabalhou com Lucas Lima no CD e DVD solo de estreia de Sandy, “Manuscrito”, em 2010, e no EP “Vício” de Manu Gavassi. Nesse mesmo ano, se juntou a Amon Lima e Júlio Torres na banda Dexterz, de música eletrônica. O primeiro single do Dexterz é uma canção instrumental chamada “Children”.
Há três anos, fez seu segundo projeto de música eletrônica, o duo Manimal, formado por ele e o DJ Júlio Torres. Mais recentemente em parceria com Bruno Bock, apresenta o projeto Pipocando Música, um canal no You Tube, falando de curiosidades do mundo da música. O canal tem mais de 1,5 milhão de inscritos.
Casado desde 2014, com a modelo e designer Mônica Benini, comemorou a chegada de Otto no final do ano passado. O encontro, que começou numa rede social, permitiu que os dois se conhecessem às pressões da mídia. Como conta Mônica, a aproximação se deu através de amigos, mas interesses comuns como fotografia, música e arte, além da paixão, consolidou a parceria para a vida. Em resumo, Junior usa toda a experiência acumulada como cantor, compositor e instrumentista, acrescentou o lado produtor, apresentador e se transformou também num youtuber, mas é Mônica quem destaca o papel de pai do cantor. Desde a gravidez foi um pai presente e, hoje, mais do que nunca entende a importância e a responsabilidade de conduzir a educação de Otto.
A música nunca foi uma imposição para os irmãos. A herança é genética. Netos e filhos de cantores, sempre estiveram em contato com a música, mas a carreira artística exigia muito mais, principalmente em se tratando de crianças.
Apesar disso, a mãe, Noely, não aprovou a ideia de imediato. Achava que era “fogo de palha”. Xororó conversou com as crianças e advertiu que não bastava cantar.
Precisariam estudar e aprender a dançar. Só cantar não bastava. A dupla topou e os pais precisaram dividir as tarefas para dar certo. Noely ficou com a parte administrativa. Cuidava da rotina e da agenda dos filhos. Inicialmente fez até a assessoria de imprensa. Xororó ficou com a produção musical.
Durante toda a carreira de Sandy & Junior, os pais estiveram por perto e a separação nunca sequer passou pela cabeça dos dois. Para Xororó, os irmãos se completavam. A separação da dupla, de acordo com Noely, deixou um vazio. Sandy & Júnior era como um terceiro filho para o casal.
Após a separação, os filhos acabaram saindo de casa. Junior mudou para São Paulo e Sandy se casou. Para os pais, todos poderiam continuar vivendo juntos, ainda que casados, mas reconhecem que os filhos têm vida própria e se mostraram maduros quando decidiram, sem consulta prévia, pôr fim à dupla.
Se para Sandy e Junior, a carreira artística começou sem grandes pretensões, como algo que gostavam de fazer apenas, o resultado mostra que eles levaram a brincadeira a sério e os pais souberam orientá-los nessa caminhada. Os irmãos, juntos, venderam mais de 17 milhões de discos e arremataram uma série de prêmios. Foram 48 em 17 anos.
Só o título “Quatro Estações” recebeu, além de indicações, 9 prêmios: cantor e cantora favoritos, conjunto musical, melhor dupla, melhor música, show e clipe. Da Universal, em 1999, receberam o prêmio de “Artistas Jovens Mais Importantes do Mundo”.
O Acústico MTV foi o último álbum da dupla. Lançado no ano em que se separaram, reunia os singles de maior sucesso, três músicas inéditas e contava com as participações especiais de Lulu Santos, Ivete Sangalo e Marcelo Camelo. Já na pré-venda conquistaram o disco de ouro, e depois (quando não se apresentavam mais juntos) o trabalho foi certificado com disco de platina, além de ter figurado nas listas de CDs e DVDs mais vendidos em 2007 e 2008.
Ainda em 2008, Sandy e Junior fizeram uma aparição pública para receber o prêmio na categoria “Melhor Dupla de Canção Popular” no Prêmio Tim de Música. Mais uma vez, tiveram que explicar a separação. A vontade de ser uma pessoa única e percorrer caminhos mais desafiadores falaram mais alto. Simples assim. Por isso podem agora se reencontrar no palco para comemorar essa jornada.
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