Contatos físicos ou virtuais?

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Se relacionar é fundamental para viver e sobreviver, desde que tudo começou, e precisamos de varias competências para que isso aconteça. O relacionamento interpessoal, empatia, comunicação, resolução de conflitos, liderança, entre outras competências, contribuem para que as relações aconteçam de maneira sadia.

*Por Daiane Daumichen Antiório

A comunicação mantém as pessoas nas relações através da fala, escrita, expressão facial e corporal. Atualmente, contamos com a tecnologia neste processo.

A tecnologia tornou-se importante em nossas vidas, seja pela otimização de tempo e até a diminuição da distância para se relacionar com as outras pessoas. O mundo digital pôde facilitar o reencontro de velhos amigos e familiares, o início de novas amizades e até relacionamento amoroso que, hoje em dia, é buscado em aplicativos.

As empresas também buscam seus candidatos para preencher vagas pelas redes sociais e grande parte do processo seletivo é realizado sem o menor contato físico, acontece tudo virtualmente. Em alguns casos, o candidato só conhece seu futuro chefe quando já está quase sendo contratado.

É uma vantagem poder contar com essa tecnologia, porque diminui custos com a locomoção e até com funcionários.

Muitos questionam se tem como identificar pontos importantes numa entrevista virtual por conta da distância, e a cada dia percebe-se que sim.

Quando falamos em relacionamentos familiares, temos algumas ressalvas com o crescimento das relações acontecendo no campo virtual. As famílias já não contam mais novidades ou discutem em reuniões familiares, os pais não esperam para ver os filhos pessoalmente para falar, mas individual ou nos grupos de WhatsApp, distanciando e resultando em rompimentos por má interpretação do que foi postado.

Tenho observado que, ao mesmo tempo que estão todos conectados, as pessoas não estão “juntas”, que ao pegar o dispositivo para se comunicar, o foco da conversa muitas vezes se perde ao acessar as redes sociais, onde outras relações se estabelecem, e as conversas ficam prejudicadas.

Percebo que o contato físico vem perdendo valor, já não se busca o toque, a sensação deliciosa do calor, do carinho, de um abraço, pelo contrário, muitas vezes o que se deseja é fugir disso.

Para muitas pessoas, principalmente as sozinhas, as relações virtuais preenchem o vazio. Vemos as pessoas mais velhas conectadas, revendo pessoas, on-line em tempo integral. Mas e o calor trocado num abraço? Um aperto de mão? Um colo quando se está triste?

Observem como é fantástico encontrar com um amigo pessoalmente e abraçar por uns segundos. Que troca silenciosa incrível! Memórias surgem e o corpo responde com uma sensação deliciosa.

Perceba como é encontrar familiares numa festa, dançar, cantar juntos. São experiências fundamentais para viver.

As crianças precisam conhecer isso e aprender a valorizar, pois a cada dia mais elas se reúnem para ficarem no celular jogando, e não para correr, pular, brincar e até a brigar, aprendendo aí a resolver conflitos, se comunicar e ter empatia.

É através das experiências vividas que desenvolvemos nossas habilidades socioemocionais que nos ajudam a nos relacionar. Em todas as faixas etárias percebemos esse distanciamento do contato físico, e talvez seja por isso que a vida tem se tornado tão desinteressante.

Olhar nas redes sociais a vida do outro feliz, sem problemas, com tudo funcionando, causa uma insatisfação com a própria vida e, em muitos casos, a falta de vontade de continuar a viver.

Quando as pessoas se reúnem por qualquer motivo, por mais tumultuado que seja, traz muitos benefícios pessoais e para o grupo todo.
Procure estimular seus grupos a se encontrarem presencialmente, através de um simples café, uma festa, quermesse e até em eventos religiosos.

Simmm…. até missas e cultos são acompanhados das casas pelas pessoas que poderiam estar lá presencialmente, impedindo o contato físico, o acolhimento e o companheirismo.

Não deixem de ensinar nossas crianças o quanto é bom falar olhando nos olhos do outro, abraçar e sentir a sensação de troca de energia e calor. De precisar identificar no comportamento do outro se ele está bem e aprender a lidar com isso.

Essas crianças serão adolescentes menos frios e mais saudáveis, com menos chances de não saber viver, sem saber identificar seus sentimentos e aprender a lidar com eles.

A comunicação virtual tornou-se tão comum e banal, que vários pedidos de socorro são manifestados pelos jovens nas redes sociais e ninguém percebe.

Entrar em contato com a realidade é um desafio nada agradável em alguns casos, e saber lidar com isso deve ser aprendido através de experiências vivenciadas.

Através da tela do dispositivo eletrônico é possível resolver as coisas, se relacionar com alguém sem precisar mostrar a sua realidade, os seus defeitos e as limitações. O relacionamento virtual é maravilhoso para se proteger de si mesmo, mas se esquece que nessa relação também pode ter alguém sendo quem não é, de verdade, do outro lado da tela.

E a vida vem sendo vivida nesse formato, numa “brincadeira” séria de “esconde-esconde”, para se defender dos medos, das frustrações e das angústias, que com certeza insistiram a existir dentro de si mesmo, ainda que não deixe o mundo ver.

Constantemente sou questionada sobre o aumento de casos de suicídio, depressão, quadros graves emocionais em várias faixas etárias e minha resposta é a mesma: falta de uma relação saudável com dores, amores, momentos bons e ruins, e isso a gente tem através dos mais diversos tipos de relações, mas principalmente das relações físicas.

E você, já abraçou alguém hoje? Deu um aperto de mão? Reflita!


Daiane Daumichen Antiório é psicóloga e personal & professional coach • CRP 06/64100 • Consultório: rua Ana Pereira Melo, 253 – Cj. 203, Vila Campesina, Osasco – SP • Tel.: (11) 3681-9338 | (11) 99819-8781 • E-mail: daiane.psicologia@hotmail.com • www.sereviver.com.br


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