Não basta ser verde, é preciso ser sustentável
Em meio a tantas polêmicas sobre a Amazônia, é importante lembrar que a preservação do meio ambiente vai muito além da floresta e essa é uma questão que precisa ser pensada no dia a dia de cada um. Na Mostra de Paisagismo e Decoração da Expoflora 2019, seguindo essa linha, não faltaram sugestões sustentáveis para o uso de flores e plantas ornamentais em ambientes internos e externos, em residências e escritórios.
Cobertura e fotos de Silvana Bezerra
“A proposta de reaproveitamento não se refere apenas à economia de material. O reuso contribui também para o resgate da memória, para trazer as lembranças do passado que, hoje, aliadas às modernas soluções tecnológicas, contribuem para garantir melhor qualidade de vida. Precisamos avançar, sempre, sem perder a segurança que as nossas raízes proporcionam”, diz Karina Taccola, coordenadora da Mostra.
Ao lado de Leonardo Celli Coelho, Karina assina o espaço que reproduz uma residência sustentável com garagem, cozinha, banheiro e sala de estar. É uma casa “circular” onde tudo (ou quase) é reaproveitado ou transformado.
Leonardo destaca a simplicidade e praticidade das peças, desde bancos (capazes de suportar até 100 kg) e cachepôs altos de papelão liso ou sanfonado, dobráveis e pallets. O piso é de pneu reciclado. “Dá pra fazer a mudança num sedã”, diz Leonardo.
Ele próprio aderiu à experiência. Usa carro elétrico, instalou painéis solares em casa e conta com um biodigestor residencial e modular alimentado com sobras de alimentos e resíduos orgânicos. Até as fezes dos pets servem para alimentar o equipamento, ou seja, os pets também contribuem com a sustentabilidade. O equipamento transforma o que seria apenas lixo em gás metano que alimenta o fogão. O módulo é capaz de alimentar uma boca de fogão por três horas.
De acordo com Leonardo, até o esgoto do banheiro pode ser utilizado e o que sobra é um biofertilizante rico, ideal para hortas. No ambiente da Expoflora a horta é de temperos (sálvia, orégano, manjericão, pimenta, alecrim etc.) que dividem o espaço com plantas perenes de baixa manutenção, Amarílis, pentas e madressilvas brancas.
O “Biojardim” tem tripla assinatura. Rogerio Bernardes, Gustaaf H. M. Winters e Martina T.E. Winters. Pesaram na escolha das plantas não apenas aspectos estéticos como também funcionais. A biopiscina utiliza sistema de filtragem natural em vez de produtos químicos. A depuração se dá por meio de um filtro biológico e de plantas aquáticas filtrantes, submersas e flutuantes. As raízes retêm as sobras dos alimentos dos peixes e oxigenam a água. O lago e a piscina foram integrados de forma a dar a impressão de que se trata de uma área alagada. Junto à piscina há também um SPA apropriado para ozonioterapia, indicada para tratamento da pele, dos cabelos e até mesmo de algumas doenças.
Cardumes de lambaris rosa e carpas Nishikigoi nadam entre bromélias e outras plantas. No fundo, uma parede mistura troncos de madeira, vidro reciclado e ferro, entre outros materiais, ligados com o barro. O jardim vertical é irrigado e adubado com o “dejeto” proveniente da filtragem da biopiscina e do lago ornamental – material riquíssimo em nutrientes compostos por nitrito, nitrato e fosfato. Esse ciclo de filtragem e irrigação é todo automatizado, com hora e data pré-programadas. Nas paredes, foi utilizada a geotinta – feita com a própria terra do espaço, água, cola e cal – que, além de mais econômica, não contém derivados químicos. A energia é fornecida por placas solares.
O “Jardim das Abelhas”, criado por Márcia Janeiro é uma explosão de cores. A advogada, que virou paisagista e ambientalista, usou 52 espécies de plantas, entre flores, árvores frutíferas, ervas aromáticas e plantas ornamentais para criar seu jardim integrado a um espaço de refeições, bate-papo e descanso.
Em meio às flores, foi instalado estrategicamente um meliponário – abrigo apropriado para as abelhas sem ferrão, possibilitando produção de mel e reprodução, para perpetuar a espécie. As casinhas ganharam até identificação das espécies: jataí – a mais comum – mirim, mandaçaia e até a solitária, entre outras. A paisagista destacou o papel importante das abelhas na polinização que contribui para o surgimento de novas plantas e alimentos.
Para completar, Márcia reservou uma parede para uma horta vertical com ervas aromáticas e PANCs (plantas alimentícias não convencionais), possibilitando a colheita de temperos e alimentos frescos a qualquer momento.
Roberta Cicivizzo Lazarov e Rose Faria apostaram no clima latino para criar o “Jardim em Festa” onde o destaque é uma mesa baixa de piquenique, rodeada de almofadas. A mesa, na verdade, reaproveita a estrutura de um jardim vertical de suculentas, apresentado no ano passado. O tampo é todo feito de musgos, pimentas, suculentas, crótons e cúrcumas e decorado com phalaenopsis. Ficam apenas os espaços para os jogos americanos.
No espaço kids foram colocados vasos com critonias, mini antúrios, minirrosas e cúrcumas, além de primaveras pink tutoradas por estruturas de ferro. Na área destinada aos adultos, a madeira se mistura a bancos de plástico enquanto kokedamas de vários tamanhos flutuam pelo ambiente.
A “Praça da Paz”, projetada por Luciano Marangoni Simões e Lucas de Castro, se conecta pela simplicidade e pelo aspecto rústico dos materiais escolhidos. Pequenos canteiros de alpínia, moreia, guaimbê, bromélia imperial e phalaenopsis no chão completam o ambiente que também tem cravínias branca e rosa penduradas em um suporte. Os pássaros foram lembrados no painel de Cris Quaglio.
O projeto tem inspiração nas pequenas praças portuguesas. Nele, as oliveira, cerejeira e laranjeira ganham a companhia de moreias, kaizukas, lavandas, podocarpus, thunbergias e da quaresmeira. O projeto de baixo custo pode ser reproduzido em qualquer cantinho do quintal com bancos de madeira reaproveitada e balanços.
O “Wine Bar”, criado como um espaço masculino, por Allan de Oliveira, Nayara Laurindo Pereira e Renato Lima tem balcão de pedra granito e de pallet, madeira reaproveitada usada também na construção do deck. Os caixotes de feira são a cristaleira e a adega. As folhagens – dispostas em vasos na adega – seguem exatamente as tonalidades das diferentes garrafas de vinho. Destaque para a mesa posta para a refeição e para o espelho d’água, de isopor banhado em cimento. As plantas escolhidas são samambaia, aspargo, begônia, tostão, agave azul, peixinho, mandacaru e suculentas.
A arquiteta Carla Dadazio apostou no conceito floresta urbana para criar o “Quintal da Paisagista”. Para tanto, foram usadas diversas folhagens de meia sombra e pleno sol, criando um mix de tons de verde e brincando com as cores das folhas das plantas. Entre elas, stromanthe, alocácia amazônica, calatheas, zamioculca, pata de elefante, cicas, strelitzia augusta, palmeiras, pacovas, chamaedoreas, bromélias, begônias rex, samambaias, aspargo pendente, peperômias e suculentas. Todas de baixa manutenção.
Uma caixa para as abelhas também aparece aqui, mas de forma discreta. Todo o paisagismo é auto irrigável, ideal para quem quer ter verde dentro ou fora de casa sem trabalho nenhum. O aparador em madeira de demolição é usado para a montagem ou manutenção de vasos.
Orpheu Thomazini e Cléia Thomazini fizeram uma homenagem a Burle Marx. Na “Garagem Gourmet” foi reproduzido o mosaico feito de pedras portuguesas preto e branco, que remete ao calçadão de Copacabana, marca registrada de Burle Marx. Além disso, abusaram de tons de laranja, azul turquesa e verde, cores do movimento de “contracultura” dos anos 1970. Destaque para o opala alaranjado (ponto focal do ambiente) e o para-choque reciclado transformado em floreira suspensa.
A piscina de areia polimérica (mesmo material usado nos parques da Disney) forma uma espécie de prainha, destaque do projeto “Paraíso Tropical”, assinado por Cris Antonelli e Ricardo Natalicchio. Cerca de 400 plantas entre bromélias, helicônias, alpínias, guaimbês, palmeiras, sunpatiens, clorofitos, colocasias, orquídeas, aspargos, pistias, aguapés, hibiscos e petit hibiscos, que formam a cerca viva rasteira do ambiente, foram usadas no projeto.
Os suportes em verde e laranja da parede são vasos cônicos de papelão 100% reciclável. No fundo foram criados nichos em isopor recobertos por um composto cimentício para abrigar plantas.
No “Pátio de Oração”, assinado por Patrícia Casselli, as boas-vindas são dadas por imagens de São Francisco e dos anjos que protegem a entrada. O cenário lembra os pátios dos antigos seminários, o jardim permite a sintonia entre a oração e a meditação com os elementos paisagísticos e decorativos de devoção.
O sino artesanal de bronze pesa 56 quilos e traz gravados a imagem da Sagrada Família e o brasão do Vaticano. No paisagismo, foram utilizados clorofitos, buxinho, trapoeraba roxa, cinerária, hera, moreia branca, crótons, maranta e kaizukas, além de espécies arbustivas, como a primavera e o jasmim. O canteiro redondo circunda a releitura de um vitral feito com partes de antigos portões, pedriscos e pedrês.
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