Portugal, a redescoberta da terra dos descobridores

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Vista de Azenhas do Mar. Foto/Divulgação

No ano passado, Portugal ganhou pelo segundo ano consecutivo o título de Melhor Destino Turístico do Mundo (World’s Leading Destination) do World Travel Awards, uma espécie de Oscar do turismo. Com preços abaixo da média europeia, povo hospitaleiro, rica cultura, deliciosa gastronomia e monumentos históricos bem conservados contribuem para o país receber mais de 20 milhões de visitantes estrangeiros por ano, provocando grande impacto na economia local.

Por Silvana Bezerra

Sidney Tomassini e Renato Martins trocaram o Brasil por Portugal há cerca de quatro anos e dizem: “os brasileiros sabem pouco sobre o país”. Menor que o estado de Santa Catarina, Portugal tem muito a mostrar, começando pelo seu bem preservado patrimônio histórico.

O jornalista Paulo Markun há dois anos transformou Lisboa em sua base. Markun é testemunha das mudanças que vêm ocorrendo na capital lusa. Aliás, há quem diga que exceto as belezas do céu, da luz e das colinas, em Lisboa, tudo muda para melhor. A LX Factory é um exemplo. Antiga sede da Companhia de Fiação e Tecidos Lisboense, fundada em 1846, foi transformada numa verdadeira “ilha criativa”, ocupada por empresas e profissionais de diversas áreas da indústria, moda, comunicação, multimídia, arquitetura, design, arte e música. Palco de inúmeros eventos, o espaço conta também com uma excelente livraria, estúdios de tatuagem e inúmeros bares e restaurantes descolados que contrastam com a arquitetura do restante da cidade. É a face hipster de Lisboa.

Rio Maravilha visto pelo LX Factory. Foto/© Site Oficial LX Factory

E já que estamos falando de modernidade, não podemos deixar de falar do MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia), inaugurado em 2016, foi projetado pela britânica Amanda Levete. Segundo ela, a ideia era deixar a vista livre para a cidade e o Tejo, “criar um lugar acessível e aproveitar a luz do local que muda a cor do edifício de azulejos imitando uma onda”. Pode ser branco, prata, dourado, de acordo com a hora e a estação.

MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. Foto/Divulgação

Novo x Antigo

Na Baixa Lisboa, Sidney e Renato recomendam caminhar até a Praça do Comércio, antigo endereço de Dom Manuel no século XVI e XVII, onde aconteciam as festas e os eventos da corte.

O Lisboa Story Centre é um dos locais que merece uma visita também. Durante 60 minutos, o visitante faz uma viagem no tempo através do uso de cenografia, multimídia e experiências sensoriais. É uma forma interativa de conhecer os principais fatos históricos que envolveram a cidade. No Arco da Augusta há um mirante de onde se pode ter uma visão completa da Praça do Comércio.

Panorâmica do Arco da Augusta. Foto/Divulgação

Seguindo pela rua Augusta, chega-se à Praça Dom Pedro IV (nosso D. Pedro I) e no final da rua do Ouro está o Elevador da Santa Justa, de onde se pode apreciar a paisagem e acessar o bairro do Chiado.

Elevador da Santa Justa. Foto/Divulgação

Próximo do elevador, em frente ao Largo do Carmo, estão as ruínas do Convento do Carmo e uma igreja do século XIV. O Palácio Chiado é mais recente. Datado do século XVIII, além de belas pinturas nas paredes, vitrais e afrescos no teto, serve de espaço para mostras de arte e outros eventos culturais, além de abrigar sete restaurantes.

Ruínas do Convento do Carmo. Foto/Divulgação

O café A Brasileira, na rua Garret, já foi ponto de encontro de intelectuais. Hoje, mantém a fama por proporcionar uma selfie com a estátua de Fernando Pessoa, numas das mesas externas. Na vizinhança, fica a mais antiga livraria em atividade, segundo o Guinness Book: a Bertrand. Fundada em 1732, se destaca pela sua seção de literatura de viagem.

Café A Brasileira. Foto/Divulgação

O Bairro Alto e Príncipe Real (juntamente com o Cais do Sodré) são pontos da badalação da capital portuguesa, com inúmeras lojas, galerias de artes e, especialmente, restaurantes e bares que ficam abertos até a madrugada.

O Elevador da Bica é um funicular que liga o Cais do Sodré ao Bairro Alto e um dos marcos turísticos de Lisboa. O trajeto tem menos de 300 metros, mas vale a experiência.

Catedral de Lisboa. Foto/Divulgação

Alfama é o bairro mais antigo da capital e é de onde se tem uma das melhores vistas da cidade. Prepare as pernas para circular pelas ruelas, becos e escadarias, avistar mosaicos de azulejos carcomidos e igrejas centenárias. A Catedral de Lisboa foi erguida no início do século XII. A poucos metros dela está a Igreja de Santo Antônio, construída no local de nascimento do santo.

O Castelo de São Jorge é uma das atrações mais procuradas do bairro, graças à vista panorâmica impressionante que se tem da cidade.


Belém, ponto de partida dos navegadores

O bairro exalta os heróis lusitanos, especialmente os grandes navegadores. O Padrão do Descobrimento, esculpido em forma de caravela, inaugurado em 1940, marca o ponto de partida de inúmeras viagens. Entre elas, a que oficializaria a chegada dos portugueses ao Brasil.

Padrão do Descobrimento. Foto/© Diego Delso • Detalhes esculpidos. Foto/© Concierge.2C

A Torre de Belém é uma fortaleza construída no século XIV na beira do Rio Tejo, símbolo do prestígio do rei na época dos descobrimentos. Assim como a torre, o Mosteiro dos Jerônimos é considerado um ponto de visita obrigatória.

Torre de Belém. Foto/Divulgação • Mosteiro dos Jerônimos. Foto/© Heartshade

O Parque das Nações é mais uma área da Lisboa moderna, construída durante a Expo 1998. No parque, merecem destaque: o teleférico e o oceanário, um dos maiores do mundo, com cerca de 500 espécies de animais: tubarões, pinguins, crustáceos, lontras, arraias e uma variedade imensa de peixes. Do teleférico é possível ter uma ampla visão do parque, da cidade, do Tejo e da ponte 25 de abril.

Oceanário e parte interna no detalhe. Foto/© JRE313

Nos arredores de Lisboa

Para quem dispõe de tempo, a menos de 100 km da capital não faltam locais que também merecem uma visita. Nadya Milano e Celso Lui retornaram há pouco de uma estada de 22 dias em Portugal.

SINTRA: para Nadya, o Palácio da Pena vale a visita. Um pouco abaixo está o Castelo dos Mouros oficialmente construído em 300 A.C. O visitante pode andar pelas muralhas, subir nas torres e ver até o Atlântico. Para quem tem preparo físico e gosta de aventuras suba a pé pela trilha de pedra. Caso contrário, siga de ônibus e guarde suas energias para a visita.

Palácio da Pena. Foto/Divulgação

O palácio é uma obra de Dom Fernando II, Rei de Portugal entre 1837 a 1853, concebida para ser o palácio de verão da monarquia. Colorido, exótico e rico. O castelo merece todos os adjetivos, menos austero. Se a parte externa impressiona, por dentro não é diferente. Internamente, os tetos abobadados têm ornamentos diferentes em cada cômodo. Há paredes inteiras revestidas com azulejo árabe, sem falar nas cortinas e mobiliário pesados.

Sintra ainda tem o Palácio Nacional e o Monserrate, mas caso não tenha muito tempo para vê-los priorize uma visita ao “Poço Iniciático” – o principal ponto de interesse da Quinta da Regaleira. Parece uma torre invertida construída dentro da rocha, dando acesso a vários túneis. É um lugar que une o céu e a terra – ou o paraíso e o inferno.

Quinta da Regaleira e, no detalhe, o “Poço Iniciático”. Foto/© Edson Maiero

PRÓXIMO A SINTRA: uma atração histórica interessante para se visitar é o Palácio Nacional de Queluz, que por muitos anos serviu como residência oficial da Família Real Portuguesa. O edifício histórico preserva muito de seus traços originais, com objetos antigos, decoração rica em detalhes e um grande jardim muito bem cuidado.

ÓBIDOS: a uma hora de viagem de Lisboa, fica Óbidos – cidade medieval cercada por uma imensa muralha. A rua Direita é a espinha dorsal da cidade que liga a Porta da Vila até o Castelo, que é considerado uma das sete maravilhas de Portugal. Começou a ser construído pelos romanos no século I. Vale a pena conhecer o seu interior e circular pelas muralhas externas de onde se tem uma vista ampla da cidade.

Vila em Óbidos. No detalhe, a ginjinha.
Foto/© Renato Seraglia e Sidney Tomassini.

Dica: não deixe de experimentar a ginjinha, espécie de licor típico da região feito da ginja, um tipo de cereja, servida em copinhos de chocolate.

Nadya destaca ainda o aqueduto de 6 km (três subterrâneos), o primeiro sistema de abastecimento de água da cidade, encomendado pela rainha Catarina, em 1550.

TOMAR: a parte urbana mais antiga e medieval, tem a forma de uma cruz, orientada pelos pontos cardeais, com um convento em cada extremo. Na colina a oeste está o Castelo e o Convento de Cristo, ocupados pelos templários.

FÁTIMA: localizado a 127 km de Lisboa, o maior santuário de Portugal pode ser explorado num único dia. Foi em Fátima que em maio de 1917, a Virgem teria começado uma série de seis aparições para as crianças portuguesas Lúcia, Francisco e Jacinta.

A parte nova da basílica foi inaugurada em 2007 e é dedicada à Santíssima Trindade, é o 4º maior templo católico do mundo, com mais de 8 mil lugares. A Basílica de Nossa Senhora, mais antiga e menor não é menos imponente. A torre da basílica tem 65 metros de altura e é arrematada por uma enorme coroa de bronze de 7 mil quilos.

Sidney e Renato consideram imperdível a visita à Vila Aljustrel, há 3 quilômetros do santuário, onde as três crianças nasceram. As casas de Lúcia e dos irmãos Francisco e Jacinta, distante uns 200 metros uma da outra, foram transformadas em pequenos museus que guardam móveis, toalhas e objetos pessoais do trio.

A descoberta do Brasil em Portugal

Viajando em direção à parte central de Portugal encontramos a região mais alta da área continental: a Serra da Estrela, quase na fronteira com a Espanha.

É uma região mais fria, onde cai neve durante o inverno e as temperaturas são bem amenas nos restante do ano. Torre é o ponto mais alto e onde funciona a estação de esqui. Nos meses mais quentes, com o derretimento da neve, a água faz surgir vales e lagoas. A Lagoa Comprida, localizada no alto da Serra é a maior delas.

Queijo da Serra da Estrela. Foto/© Beira.PT

Na Serra das Estrelas estão também 12 vilas históricas, construídas em pedra de granito. Na região, o primeiro povoamento registrado é do século 8 a.C.. Belmonte, entretanto, é uma vila especial para os brasileiros. É a terra de Pedro Álvares Cabral, onde há inúmeras referências ao Brasil, começando pelo Museu do Descobrimento. Em 16 salas interativas, o visitante torna-se um explorador.

Estando na região, não deixe de provar o Queijo Serra da Estrela, considerado o mais antigo de Portugal e reconhecido internacionalmente como um dos melhores queijos de leite de ovelha.

COIMBRA: dividida em cidade alta e baixa, Coimbra é uma cidade universitária. Localizada na parte alta, a Universidade de Coimbra é a mais antiga de Portugal e uma das mais antigas do mundo.

Universidade de Coimbra. Foto/Divulgação

Na parte baixa da cidade, está concentrado o comércio. É onde fica a Igreja de Santa Cruz que se destaca pelas belezas dos azulejos que cobrem seu interior e pelos mausoléus dos primeiros reis de Portugal.

PORTO: para Nadya, Porto e Coimbra são “desaceleradas” se comparadas à Lisboa, mas não significa que sejam menos belas. A torre, o museu e a Igreja dos Clérigos formam um só conjunto. A Ribeira é uma das regiões mais bonitas da cidade. Além de predinhos com sacadas coloridas, símbolos do Porto, é o destino certo para quem busca um lugar para curtir o visual do rio Douro que pode se completar com um pequeno cruzeiro de 50 minutos no tradicional barco Rabelo.

Igreja dos Clérigos. Foto/Divulgação

Se tiver fome experimente uma francesinha – prato típico do Porto – mas nem pense nas calorias. Trata-se de um sanduíche feito com dois pães de forma grossos, recheado com bife bovino, linguiça, salsicha fresca e fiambre. Coberta com queijo, é levada ao forno até derreter. Para finalizar, é adicionado o famoso molho quente e picante à base de tomate, cerveja preta e vinho do porto. Além de tudo isso, ainda costuma-se colocar um ovo frito por cima e servir com batatas fritas.

Francesinha, o prato típico do Porto. Foto/Divulgação

No verão, além de poder curtir a Praia de Matosinhos, outra boa opção é mergulhar nas piscinas naturais da praia Leça da Palmeira.

Piscinas naturais na praia Leça da Palmeira. Foto/© Christian Gänshirt

GUIMARÃES: declarada Patrimônio Cultural da Humanidade em 2001 pela UNESCO, Guimarães pode ser visitada em um único dia. Ao norte, no Monte Largo, estão os monumentos históricos mais importantes de Guimarães: o Castelo, o Paço dos Duques de Bragança e a Igreja de São Miguel do Castelo.

Da Montanha da Penha ou Monte de Santa Catarina se tem uma das mais belas visões da cidade. Pode-se chegar ao topo através de trilhas ou teleféricos que partem do centro.

Centro histórico de Guimarães. Foto/Divulgação • Vista aérea do Paço dos Duques. Foto/© Câmara Municipal de Guimarães

A Luz de Portugal

Na primavera-verão o sol se estende até mais tarde jogando luz sobre a paisagem e especialmente sobre os prédios históricos. Para a fotógrafa Lucíola Svarick, Lisboa parece ainda mais iluminada, mas para Sidney e Renato nada se compara ao outono. A paisagem ganha um toque dourado avermelhado, criando um cenário ainda mais deslumbrante.

Quem visita Portugal pela primeira vez se surpreende e descobre que precisará voltar várias vezes para conhecer o país dos descobridores. Em qualquer estação, o país sempre terá atrações diferentes a oferecer e, agora, são os brasileiros que fazem o caminho inverso para conhecer as terras lusas. Boa viagem e boas descobertas!


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